as árvores do meu caminhocada foto e poema isoladamente |
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Mil desenhos loucos te
tatuam. Mil formas te
formam, deformam e te
fazem ser. Abraço-te e sinto
minhas formas fundirem-se
com as tuas.
Sorvo o instante de nossa
impossível união e retiro-me
com meu corpo marcado, para
sempre, pelo teu.
Detalhe de casca de Pinheiro Ponderosa Yosemite National Park - California, USA |
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Se eu pudesse, subiria à mais
alta de tuas ramadas,
escolheria o mais morno dos
teus galhos e lá faria um ninho
para os meus desejos. Depois,
uma a uma, enfileirava as
canções que o vento canta nas
tuas folhas, juntava-lhes os
risos dos pássaros e deixava-
me sonhar apenas por um
segundo. Se eu pudesse ...
Detalhe de casca de Sequóia Sequoia National Park - California, USA |
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Teu corpo, com cheiro de terra,
detém o meu passo. O que terá
feito aquela ramada crescer tão
direita em direção à nascente e
aquela outra descrever tantas e
tão caprichosas curvas? O que
terá feito o teu tronco tão terno
de tocar e macio de sentar?
Retomo devagar o passo, mas,
um pouco adiante, paro e
olho-te de novo; e o que me
terá detido, me feito te tocar e
... escrever estas coisas?
Detalhe de casca de Goiabeira Benfica - Pará, Brasil |
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Teus mapas (maravilhosas
imperfeições), marcados ao
acaso em teu corpo, são
caminhos por onde navegam as
canoas da minha imaginação.
Se uns dias, ao passar
indiferente, não os noto, não
quer dizer que esteja longe
de ti. Quer dizer (terrível
confissão!) que estou longe
de mim mesmo.
Detalhe de casca de Angelim Vermelho Tailândia - Pará, Brasil |
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O vento assobia em teus velhos
galhos canções estranhas.
Ontem quase nada eras e hoje
quase nada és. Entre raízes, a
teus pés, sementes que te farão
renascer em outros seres me
lembram que minhas palavras,
no papel, me farão também
renascer, sempre que lidas.
Por um instante, imagino que
eternidade seja apenas isso.
Detalhe de casca de Massaranduba Tailândia - Pará, Brasil |
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Os espinhos que te
protegem não me deixam
tocar-te. Olho-te e sinto as
couraças espinhosas de que
me revisto e que me
protegem, afastando-me
de tudo o que me rodeia.
Olho-te de novo e
pergunto-me por quê.
Detalhe de casca de Pupunheira Santa Izabel - Pará, Brasil |
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Sinto como se fosse no meu,
minha irmã, a ferida que
fizeram no teu peito. Logo
mais, na calada da madrugada,
voltarei. Sei que não serei
capaz de sanar a tua dor, mas
prometo que colherei alguns de
teus frutos e os levarei para
terras onde as únicas armas
conhecidas sejam o dardejar
dos raios de sol, pela manhã, e
o ribombar de risos de
crianças, ao entardecer.
Detalhe de casca de Eucalipto Couto de Cima - Viseu, Portugal |
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Observo a harmonia com que o
teu tronco sustém as ramagens.
Arranho-te ao de leve e cheiro
a seiva das tuas entranhas.
Sinto-me inebriado. Teu corpo
desperta em mim sensualidades
ignoradas. Um desconhecido
passa. Sério, recuo alguns
passos e examino-te com
fingido ar catalogador. Ele...
terá reparado?
Retiro-me, despedindo-me de
ti com um olhar de soslaio.
Detalhe de casca de Seringueira Mojú - Pará, Brasil |
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